Gatinha Paradoxal

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O Medo do Controle: Indiferença como uma Ameaça e Resistência

Existem sistemas que nascem da necessidade de ordem, mas que rapidamente degeneram em um pacto de controle. Controle sobre os corpos, pensamentos, desejos e até sobre o modo como respiramos a vida. Uma sociedade controladora não teme a desobediência. A desobediência é combustível para a máquina da repressão. Ela é previsível, gerenciável, neutralizável. Não, o que ela teme é algo mais silencioso e subversivo: a indiferença. Porque ser indiferente é escapar das garras do medo e do desejo, esses dois alicerces que sustentam qualquer estrutura de poder. É tornar-se uma figura incapturável, como água que escorre pelos dedos.

O maior pavor de uma sociedade baseada no controle é que você se torne inatingível. Que você pare de desejar as coisas que ela promove incessantemente como essenciais. Que você olhe para o mundo que ela construiu — com suas promessas de felicidade, sucesso, pertencimento — e não veja nada digno de valor. Que você, ao invés de resistir, simplesmente se recuse a participar.

A máquina do desejo e do medo

O controle social é profundamente psicológico. Ele precisa convencê-lo de que sua existência está intrinsecamente ligada às métricas de produtividade e aprovação. Precisa fazer você acreditar que seu valor reside em quão bem você se encaixa na engrenagem, em quão profundamente você deseja o que é oferecido e em quão desesperadamente você teme perder aquilo que nunca foi verdadeiramente seu.

Desejo e medo são forças complementares. O desejo de ascender, de pertencer, de consumir. O medo de falhar, ser excluíde, de desaparecer. São essas forças que mantêm você na linha, que sustentam sua fidelidade ao sistema. E quando você se desprende delas, quando percebe que o jogo é viciado, o poder que controla se depara com algo que não pode manipular: o vazio.

Indiferença como ameaça

Ser indiferente é rejeitar as regras do jogo sem sequer tentar modificá-las. É um ato de sabotagem silenciosa, porque a indiferença não alimenta o conflito; ela dissolve o vínculo. É negar a lógica da troca que sustenta o sistema. O sistema pede sua atenção, sua validação, mesmo que em forma de revolta. Ele exige que você sinta algo — raiva, frustração, ansiedade — porque são essas emoções que ê mantêm vive. Quando tu deixa de reagir, ele perde o controle.

Mas há uma armadilha na indiferença. Ela pode ser libertadora, sim, mas também pode ser uma prisão. Porque, ao se desapegar de tudo, há o risco de se desapegar também de si mesme. A sociedade teme sua indiferença porque ela lhe dá controle absoluto sobre sua vida, mas essa liberdade pode ser tão esmagadora quanto a prisão que você deixou para trás. O que você faz quando nada mais importa? Para onde vai quando não há caminhos marcados?

Essa é a dualidade da indiferença: é resistência e vazio, ruptura e abismo. Ela destrói o controle, mas também pode destruir o propósito. Talvez seja por isso que ela seja tão temida, pois ela te coloca diante da pergunta mais apavorante de todas: o que significa existir quando o mundo perde sua autoridade sobre você?

No fundo, o controle social não teme perder o poder. Ele teme perder a razão de existir. Uma sociedade controladora só pode funcionar enquanto houver quem acredite nela, enquanto houver quem sinta que precisa dela para validar sua própria existência. Quando você se torna indiferente, não é apenas você que desaparece das engrenagens; é o próprio sistema que começa a se desmanchar.

E talvez seja esse o maior paradoxo de todos: o sistema precisa que tu acredite na sua própria importância para continuar existindo. Mas, ao mesmo tempo, ele teme que você perceba que sua existência é muito maior do que qualquer sistema poderia conter.

Então, o que fazer com a indiferença? Será ela um refúgio ou um beco sem saída? Talvez a resposta não esteja em rejeitar o controle, mas em redescobrir o que significa existir para além dele. Porque, no final, a indiferença absoluta não é o ponto final. É um intervalo, um espaço entre o que foi e o que ainda pode ser.

E se o maior medo do controle é que você se torne indiferente, talvez o maior desafio da liberdade seja o que fazer com ela quando finalmente a alcançamos.

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Como o anarquismo se relaciona com o Enem?

Faltam 09 dias pra primeira prova do Enem!

Eu estava lá, imersa nos estudos de redação, lendo as "notas mil" e tentando entender as temáticas que se repetem, quando algo me chamou a atenção de forma brutal. Aquele padrão de sempre: todo mundo tão atolade em narrativas que só se afastam mais e mais do centro do sistema, enquanto na verdade, alimentam sua perpetuação. Foi naquele momento, como um estalo, que a ficha caiu. Decidi, sem hesitar, adotar uma perspectiva anarquista pra abordar cinco temas que, pra mim, não são só pertinentes – são essenciais, mesmo que eu ainda odeie papel e caneta! 😠

Escolhi essa abordagem porque preciso, urgentemente, romper com uma visão convencional, que em textos anteriores só glorificava instituições como se fossem as salvadoras da pátria, como se fossem mágicas pra todos os problemas sociais. A verdade, que ninguém quer enfrentar, é que essas mesmas instituições são as que mantêm a roda da opressão girando, e não ao contrário. Elas não resolvem nada. Elas só mascaram a desigualdade que sustenta o sistema, um tapete pra esconder a sujeira que está ali, na nossa cara, todos os dias.

E foi assim, nesse rompimento radical com a narrativa hegemônica, que a minha escrita ganhou força e autenticidade. Adotar uma ótica anarquista não é só uma escolha ideológica – é um reflexo do que realmente acredito. E, sim, talvez eu seja a nerd da turma 🤓, mas isso só reforça minha crença de que o conhecimento deve ser desafiado, desconstruído, e não engolido como verdade absoluta. Essa maneira de olhar o mundo me permite ser incisiva, apontando o dedo pra essas estruturas de poder que alimentam as desigualdades, ao mesmo tempo que busco alternativas que vão além de estruturas de dominação. Autonomia, solidariedade, colaboração – esse é o caminho.

Olha, a história tá aí pra mostrar que os movimentos anarquistas não estão só no discurso: eles provaram que comunidades autônomas, sem hierarquias impositivas, podem funcionar. Esses modelos descentralizados não são apenas um sonho – são soluções concretas que já existiram e existem no mundo. Então, por que não inserir essas ideias numa redação? Se estamos criando uma nova narrativa, por que não explorar o que seria viver em um mundo onde a autonomia e a liberdade sejam as bases de tudo, desde o jeito que nos relacionamos até a forma como nos organizamos?

Acho que, no fim das contas, a questão não é se meu viés ideológico vai me garantir a nota do Enem (será que isso importa mesmo?). O que importa é que a minha visão anarquista me dá um repertório muito mais denso, uma maneira de olhar e questionar o sistema de uma forma que a maioria nem imagina. Minha escrita passa a ser mais persuasiva porque ela não se limita a repetir frases feitas – ela articula uma visão crítica, que não se contenta com o lugar comum. E é isso, minhes amigues, que faz com que minha voz se destaque. Não é só sobre me sobressair na prova, é sobre plantar uma reflexão que vá além, uma reflexão sobre como as instituições estão longe de ser as soluções que prometem ser.

Então, não, eu não tô aqui pra seguir o fluxo. Decidi nadar contra a maré, trazer à tona discussões que a sociedade tenta ignorar. O que está em jogo não é uma simples nota – é a chance de provocar uma mudança de perspectiva, uma revolução nas ideias. E, por mais que eu ainda esteja descobrindo como essa jornada vai se desenrolar, tenho certeza de uma coisa: minha perspectiva anarquista vai ser o combustível que vai transformar minha escrita em algo profundo e irreversível. Porque, convenhamos, quem disse que a escrita precisa se submeter a essas estruturas rígidas que não capturam a complexidade do mundo em que a gente vive?

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