Desabafo
Aviso de conteúdo: discussão sobre saúde mental, desânimo, vazio existencial e crítica à cultura da produtividade.
Minha família constantemente afirma que a falta do que fazer e sedentarismo trazem desânimo e até depressão, como se estar sempre em movimento fosse remédio pra todo o mal. Mas, na realidade, nada disso parece preencher ou trazer uma melhora.
Eu passo horas do meu dia mergulhada em estudos – web design, desenvolvimento front-end, design gráfico, questões NHINCQ+, Enem. É um ciclo interminável de aprender, absorver e repetir, enquanto escuto as músicas que ainda conseguem me arrancar algum arrepio, uma das poucas emoções genuínas que restam. Mesmo com toda essa "dedicação", sigo me sentindo vazia, desiludida, como se estivesse afundando em areia movediça.
A real é que nenhum livro, nenhum código, nenhum conceito parece aliviar esse peso constante. Acredito que me disseram uma mentira: que basta seguir uma rotina regrada, comer bem, fazer exercícios e ser produtiva para alcançar a tal felicidade. Mas tudo isso parece uma farsa que só aumenta a sensação de inadequação. Porque, enquanto sigo todas essas exigências externas, ainda luto pra encontrar algum tipo de sentido, e não vejo melhora alguma. Tem dias em que, sem explicação, me vejo em lágrimas no meio de tarefas simples, como limpar a casa – uma tarefa que deveria ser comum, mas que parece desencadear uma avalanche de emoções que mal controlo.
Às vezes, me pergunto se essa ideia de "seja produtiva e será feliz" não é apenas uma armadilha, uma cilada para nos manter constantemente ocupades, para impedir que reflitamos sobre o vazio que sentimos. Parece que o mundo em que vivemos, em vez de nos ajudar a lidar com nossos sentimentos, apenas nos oferece mais coisas para fazer, mais metas, mais listas de afazeres, como se ocupar nossa mente fosse a única solução para silenciar a dor. Como se ignorar o que sentimos fosse o caminho para superar as angústias.
Mas a verdade é que, mesmo ocupada, estudando e sempre me esforçando, ainda penso em desistir. Ainda sinto uma tristeza profunda e inexplicável que me arrasta para baixo, e não existe quantidade de produtividade que a faça desaparecer. Não se fala sobre isso, sobre como essa pressão pra sermos bastante atives e eficientes só aumenta o vazio que muites carregam. Porque, enquanto corremos atrás de metas, estamos nos distanciando cada vez mais de nós mesmes.
E, assim, o ciclo se repete: fazer mais, me esforçar ainda mais, e esperar algum tipo de reconhecimento ou satisfação que nunca vem. E, no fim, resta apenas o cansaço. Um cansaço que é mais profundo do que qualquer falta de sono ou de descanso, que é o cansaço de existir em um mundo onde o valor está sempre condicionado ao que produzimos, ao que entregamos. Talvez seja essa a razão pela qual tantes se sentem perdides e desmotivades, preses em um sistema que nos faz acreditar que nossa existência só tem sentido enquanto estamos sendo úteis.
No meio desse turbilhão, sigo em frente, dia após dia, sem certeza alguma, apenas com o peso de tentar entender o que significa estar aqui, onde o sentido parece se perder. E talvez, só talvez, esse vazio seja o grito silencioso de que algo está errado – não comigo, mas com tudo o que me fizeram acreditar que eu deveria ser.